terça-feira, 16 de agosto de 2011

Palestra no Museu Emílio Goeldi.


Caros,

Quero compartilhar com vocês, a alegria de ter participado da palestra que fala sobre "Acervo Inédito da expedição de Emil Heinrich Snethlage". Ministrada pela jornalista e fotografa Gleide Mere.

O alemão Emil Heinrich Snethlage (1897-1939) fez duas viagens importantes ao Brasil. Dr. Snethlage foi um dos percussores aos estudos de povos indígenas de Rondônia no vale do Guaporé.  Inspirado pelo exemplo de sua tia Emilie Snethlage, que foi diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi entre 1914 e 1922. Dr. Snethage fez uma viagem ornitológica entre 1923 e 1926 (em parte acompanhado por sua tia) ao Centro-Oeste do Brasil, onde visitou vários povos Jê e Tupí e desenvolveu uma paixão pela etnografia.

No final de 1933 até o início de 1935, Snethlage organizou uma expedição ao alto rio Madeira. O objetivo da expedição era aumentar a coleção do Museu de Etnologia em Berlim. Durante pouco mais de um ano ele visitou algumas partes da Bolívia e subiu quase todos os afluentes importantes do lado brasileiro do rio Guaporé. Snethlage viajou à região do Vale do Rio Guaporé, em Rondônia, através de uma expedição científica do Museu Etnográfico de Berlim e durante a expedição, entrou em contato com sete povos indígenas que, até aquela época, ainda não haviam sido estudados: Makurap, Amniapä/Mampiapä, Jabutí, Wayoro, Arikapú, Aruá e Tuparí. Além desses, pôde colecionar objetos de povos que já eram conhecidos: Moré, Kumaná, Pauserna, Abitana-Huanyam e Chiquitano.

Ele colecionou milhares de objetos etnográficos, fez escavações arqueológicas, documentou a vida dos povos indígenas em fotografias e filmes, gravou música indígena em cilindros de cera e coletou listas de palavras das línguas indígenas. Também manteve um diário científico, cujo manuscrito datilografado consta de mais de 1000 páginas. Com base na viagem ao alto Madeira, Snethlage chegou a organizar uma exposição em Berlim, publicar vários artigos etnográficos, um estudo das tradições musicais indígenas (1939) e um livro científico-popular sob o títuloAtiko y (1937). Snethlage planejava a publicação de monografias sobre as diferentes tribos e dos vocabulários de suas línguas. Já estava trabalhando em vários ensaios e uma monografia sobre os Moré em 1939, quando a 2aGuerra Mundial interrompeu suas atividades. Teve que ingressar no serviço militar obrigatório, e logo depois faleceu em um acidente.

A maior parte da coleção etnográfica de Snethlage — como também o diário — sobreviveu à guerra. O etnólogo Franz Caspar teve acesso ao diário e aos vocabulários quando estava trabalhando em sua tese doutoral (1953) e algumas informações importantes deste material foram incluídas em sua monografia sobre os Tuparí (1975). Outros cientistas, como Chestmír Loukotka e Paul Rivet, tiveram acesso a este material, que nunca foi publicado e do qual uma parte desapareceu. Foi com base nos vocabulários do Snethlage que Curt Nimuendajú descobriu a conexão entre as línguas Jabuti de Rondônia e as línguas Jê do Centro-Oeste. Uma parte dos vocabulários foi digitalizada na Universidade de Leiden por Hélène Brijnen e Willem Adelaar. 

O diário está sendo preparado para publicação por seu filho e herdeiro, Rotger Snethlage. Os trabalhos de Snethlage representam uma fonte riquíssima de dados sobre os povos e indivíduos indígenas da região, nas primeiras décadas do contato com a cultura ocidental. Naquele tempo, a região onde ele viajou era totalmente desconhecida pela ciência; na maioria dos casos, Snethlage foi o primeiro a documentar suas culturas e línguas indígenas. Infelizmente, doenças contagiosas exógenas já haviam sido introduzidas por não-índios e, quando Franz Caspar chegou no final da década de 40, a maioria das populações já haviam sido dizimadas. Não obstante o trabalho de Caspar, ainda se sabe muito pouco das culturas hoje quase extintas do lado direito do Guaporé, a maioria das quais fazem parte do Complexo Cultural do Marico (assim chamado pela antropóloga Denise Maldi). Consequentemente, e em vista da riqueza e da qualidade dos dados, o trabalho de Snethlage é uma das melhores fontes etnográficas e históricas que existem sobre a vida tradicional dos povos indígenas do lado direito do rio Guaporé.

Tudo isso e mais um pouco foi exposto pela jornalista Gleide Mere que mostrou uma parte desse diário e de vídeos que já estão digitalizados e canções instrumentais que eram feitas por cilindros de ceras foram reconhecidas por falantes da língua. Expondo como exemplo canções instrumental do povo Makurap, que foram reconhecidas por idosos da comunidade. Em suma, a palestra foi magnífica e eu consegui aprender e fica cada vez mais admirada com a cultura indígena. Museu Goeldi sempre surpreendendo isto é fato.

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