quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Do milho á Pipoca .

"As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me provocar isso. A pipoca, milho, mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. Percebi então a ralação metafórica entre pipoca e o ato de pensar.

Lembrei-me do que me ensinou a Mãe Stella, sábia do Candomblé. Ela lembrou que, para os cristãos, alimento religioso são pão e vinho, Mas, para o Candomblé, religiosa é a pipoca.
Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente das crianças.

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho e pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho e pipoca. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa, Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser e o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.

 Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos Piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a estourar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoramos o dito de Jesus: “Quem preserva a sua vida, perde-lá-á”. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia, crocante, deliciosa... Não vão da alegria pra ninguém. Quando ás pipoca que estouram, são adultos que voltam a ser crianças e sabem que a vida é uma grande brincadeira..."

O Texto acima foi extraído da revista “ Pisque ciência&vida” do autor Rubens Alves .



A idéia do autor é retrata de forma metafórica o milho que se transforma em pipoca, dando a inserção de reflexão que o ser um humano só muda quando passa por situações de “fogo”, o autor mostra de forma deslumbrante a idéia de mudança, pessoas que são casmurras tende a mudar se passarem por situações complicadas como doenças ou perda de uma pessoa querida, ficar pobre etc. Mas o autor mostra também, pessoas que por mais que passem por situações difíceis, se recusa a mudar. Ele retrata de forma metafórica essas pessoas como o milho que se recusa a estourar que ele chama de “piruá” , pois bem entendemos que apesar do caos que o mundo nos condena não podemos fica assim, triste e desacreditado da vida, que ao acordar podemos ser pessoas melhores e não esquecer de agradecer por está vivo, por esta com saúde ,por ter um amor , uma familía etc..
É engraçado que mesmo quando as pessoas têm tudo elas não estão satisfeito com nada. Elas acham que são as melhores pessoas do mundo mais na verdade não são. Rancor, ódio, arrogâncias, não dão em nada. Essas pessoas são ineptas, pois como os piruás que não serve pra nada e seu destino final é o lixo.

Beijooos  !

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