sábado, 28 de maio de 2011

Amor romântico.


O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.


(Autor desconhecido)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A ponta do Nariz ( Machado de Assis em : Brás Cubas)

Texto retirado do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.


Capítulo XLIX
A ponta do nariz



Nariz, consciência sem remorsos, tu me valeste muito na vida...
Já meditaste alguma vez no destino do nariz, amado leitor? A explicação do Doutor Pangloss* é que o nariz foi criado para o uso dos óculos – e tal explicação confesso que até certo tempo me pareceu definitiva; mas veio um dia em que, estando a ruminar esse e outros pontos obscuros de filosofia, atinei como a única, verdadeira e definitiva explicação.

Com efeito, bastou-me atentar no costume do faquir. Sabe o leitor que o faquir gasta longas horas a olhar para a ponta do nariz, com o fim único de ver a luz celeste. Quando ele finca os olhos na ponta do nariz, perde o sentimento das coisas externas, embeleza-se no invisível, apreende o impalpável, desvincula-se da terra, dissolve-se, eteriza-se. Essa sublimação do ser pela ponta do nariz é o fenômeno mais excelso do espírito, e a faculdade de a obter não pertence ao faquir somente: é universal. Cada homem tem necessidade e poder contemplar o seu próprio nariz, para o fim de ver a luz celeste, e tal contemplação, cujo o efeito é a subordinação do universo a um nariz somente, constitui o equilíbrio das sociedades. Se os narizes se contemplassem exclusivamente uns aos outros, o gênero humano não chegaria a durar dois séculos: extinguia-se como as primeiras tribos.

Ouço daqui uma objeção do leitor: - Como pode ser assim – diz ele – se nunca jamais ninguém não viu estarem os homens a contemplar o seu próprio nariz?

Leitor obtuso, isso prova que nunca entraste no cérebro de um chapeleiro. Um chapeleiro passa por uma loja de chapéus; é a loja de um rival, que abriu há dois anos; tinha então duas portas, hoje tem quatro; promete ter seis e oito. Nas vidraças ostentam-se os chapéus do rival; pelas portas entram os fregueses do rival; o chapeleiro compara aquela loja com a sua, que é mais antiga e tem só duas portas, e aqueles chapéus com os seus, menos buscados, ainda que de igual preço. Mortifica-se naturalmente; mas vai andando concentrado, com os olhos para baixo e para frente, a indagar as causas da prosperidade do outro e do seu próprio atraso, quando ele chapeleiro é muito melhor chapeleiro do que outro chapeleiro... Neste instante é que os olhos se fixam na ponta do nariz.

A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao individuo. Procriação, equilíbrio.

Entendeste, amado leitor o ensejo de eu querer demonstrar esse lindo texto de Brás Cubas?

Vamos contemplar o nosso próprio nariz? ;)

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* Personagem do Cândido, de Voltaire (François- Marie Arouet, 1691-1778), que encarnava o otimismo, aplicando sempre a máxima do filósofo alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716) “ Tudo ocorre bem no melhor dos mundos”. (N. do E.)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Prezados,

Em primeiro lugar quero pedir desculpas por ter me afastado todo esse tempo desse lugarzinho que se tornou para mim um verdadeiro diário compartilhado com todos vocês.  A falta de tempo foi o verdadeiro motivo. Estava em um período muito trabalhoso na universidade, mas também muito produtivo. Mas hoje vim compartilhar com vocês a alegria de ganhar um estágio temporário, que vai me proporcionar à destreza de um início definitivo ao trabalho de línguas indígenas; quando eu recebi a notícia fiquei muito feliz, porque é algo que eu amo de verdade.

Não lembro bem quando começou o meu interesse pela cultura indígena, mas eu sempre gostei de lendas amazônicas. Minha infância foi sempre assistindo catalendas e ficava cada vez mais maravilhada com aquelas historias ficcionais. Até que um dia no ano de 2007 eu fui assistir pela televisão o Festival de Parintins, e fiquei deslumbrada com todo aquele encantamento, e eu fui percebendo o quanto a minha terra é linda e rica em lendas e cantos. Quando entrei no curso de Letras na Universidade Federal do Pará eu sabia que eu queria trabalhar com Literatura da Amazônia, especificamente com narrativas orais (mitos) de alguma língua indígena. E hoje o que era sonho está se tornando realidade. Só tenho agradecer a Deus por tudo que ele está fazendo por mim, sei que o caminho é difícil, pois trabalhar com línguas indígenas requer um dedicamento total. Espero que o estágio seja uma porta para outros trabalhos que estão por vim.

Obs: Entendam se eu “sumir” por mais algum tempo, estou dando início a um sonho que quer dedicação exclusiva ;)


“O homem branco, aquele que se
diz civilizado, pisou duro não só na
terra, mas na alma do meu povo, e
os rios cresceram, e o mar se tornou
mais salgado porque as lágrimas da
minha gente foram muitas.”

Cibae Ewororo- (índio Bororo de Mato Groso)

Att.
Camille Miranda.