quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Em Todas as Ruas te Encontro...

Max Sauco - Radhe govinda 2008

Em todas as ruas te encontro 
em todas as ruas te perco 
conheço tão bem o teu corpo 
sonhei tanto a tua figura 
que é de olhos fechados que eu ando 
a limitar a tua altura 
e bebo a água e sorvo o ar 
que te atravessou a cintura 
tanto    tão perto    tão real 
que o meu corpo se transfigura 
e toca o seu próprio elemento 
num corpo que já não é seu 
num rio que desapareceu 
onde um braço teu me procura 

Em todas as ruas te encontro 
em todas as ruas te perco 

Mário Cesariny, in "Pena Capital"

sábado, 24 de maio de 2014

Do Desejo (Hilda Hilst)


Hector Pineda




       
  Quem és? Perguntei ao desejo.   
 Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.  

I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo.
E que descanso me dás
Depois das lidas.
Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
 Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.  

II
Ver-te. Tocar-te.
Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos.
Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te. Cordura.  Crueldade.

III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.  

IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo.
E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo.
Por que não posso Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?  

V
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes que viajas,
e um sol de gelo petrifica-me a cara e desobriga-me de fidelidade e de conjura.
O desejo Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê?
Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.    

VI
Aquele Outro não via minha muita amplidão.
Nada LHE bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, porque me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma Fome irada e obsessiva?  

VII
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
Há o caminhar um descaminho, um arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis
Se só me quero viva nas tuas veias?  

VIII
Se te ausentas há paredes em mim.
Friez de ruas duras
E um desvanecimento trêmulo de avencas.
Então me amas? te pões a perguntar.
E eu repito que há paredes, friez
Há ,olimentos, e nem por isso há chama.
DESEJO é um Todo lustroso de carícias
Uma boca sem forma, em Caracol de Fogo.
DESEJO é uma palavra com a vivez do sangue
E outra com a ferocidade de Um só Amante.
DESEJO é Outro. Voragem que me habita.  

IX
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro.
E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.  

X
Pulsas como se fossem de carne as borboletas.
E o que vem a ser isso? perguntas.
Digo que assim há de começar o meu poema.
Então te queixas que nunca estou contigo
Que de improviso lanço versos ao ar
Ou falo de pinheiros escoceses, aqueles Que apetecia a Talleyrand cuidar.
Ou ainda quando grito ou desfaleço
Advinhas sorrisos, códigos, conluios
Dizes que os devo ter nos meus avessos.

Pois pode ser. Para pensar o Outro, eu deliro ou versejo.
Pensá-LO é gozo. Então não sabes? INCORPÓREO É O DESEJO.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Declaração de amor...

Declaração para minha mãe,

É Oyá que brilha no meu caminho, 
Veste fogo, puro fogo
É Oyá a tempestade que gira em mim
É vento, filha do vento
É de Oyá, minha fúria, meu arquétipo, meu tudo... ´
É de Oyá meu amor doentio e ciumento
Mas, também é de Oyá minha garra e determinação, e mais, minha LIBERDADE também é dela, livre como ela...
Oyá ergue a sua saia e pisa no fogo ao lado de Xangô
É vulcão...
Seja Oyà Petu, Oyá dos raios, Oyà Onira, Oyà Bagan,
Oyá Senó ou Sinsirá, Oyà Topè , Oyà Ijibé ou Ijibí
Oyà Kará, Oyà Leié, Oyà Biniká, Oyá Olokere Olokuerê
Seja Oyás de culto Igbalé:
Oyà Egunita, Oyà Funan-Igabalé,
Oyà Padá
Oyá Tanan ou Furé
Seja qual for é larva, é guerra, combustão
É a minha Oyá que ilumina meu céu
Meu amor mais intenso
Eparrê minha mãe

Meu amor mais verdadeiro...

domingo, 4 de maio de 2014

Se deja LLevar...

Que pudores posso eu ter
se o teu toque me desmontava.
Esse toque que era visceral, 
imoral, e imperfeito.
Mas que percorria o meu corpo suado
e te transformava nas sendas
do meu pecado
Que pudores posso ter
se a tua boca insana
me estremecia naquela cama
fazendo o inimaginável no meu ser...
ah se desejas, 
Venha e devore o meu ser
Orgasmos que me fazem perde os sentidos
Promíscua, Sexo, Insanidade
Se desejas, 
Deixe-se levar mais uma vez...

ao som...


"Y si el destino no me deja
Descansar
Por no conocerme
Me confunde esta mente que suelen dañar
Me pierde el sexo turbulento
Me pierde el son del son
Son de cuando llegas
Son de cuando voy
Son de tu cadencia
Son de como soy"




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mon chéri, Venez sur...

Venha, 
Sussurre 
Diga 
Me ame...

Venha,
Experimente 
Se lambuze
Me tome... 

Venha, 
Faça-me
Inconsequente 
Puta
Insana
Anjo... 

Venha,
Orienta-me
Traduza-me
Ensina-me
Enlouqueça-me...

Desejos insanos
Venha, 
Meu corpo
No teu corpo
Teu sexo
Meu sexo
Nosso sexo... 
Volúpia 

Mon chéri
Venez sur,
Change-moi 
enfreindre 
rupture
lois 
Abuser de moi...

Venha, 
é sina
é fogo,
é Oyá
é Conchita
é gira...
é vento
é vida...
é morte

Abuse
A lascívia dona da noite
Impera e brilha
Venha, 
Embole-se 
Nos jogos de pernas
Quadris
Tapas 
Beijos e línguas
Penetração

Venha, 
e sinta
é vulcão
paixão
erupção
amor 
Tesão
Luxúria 
Gozo
Sensação... 





(Anita)






sexta-feira, 25 de abril de 2014

"Eu sou índio eu sou filho do mesmo Brasil"

O Brasil é um país que tem uma grande diversidade cultural e linguística de povos indígenas. São aproximadamente 150 línguas indígenas espalhadas pelo país todo, com uma grande concentração destas línguas na Amazônia. Entretanto, por conta desse progresso animalesco do capitalismo estas línguas estão desaparecendo de uma forma avassaladora ocasionando perda de uma identidade e de um patrimônio cultural riquíssimo. Essa mania ditatorial do governo de fazer projetos em cimas de terras indígenas é acreditar em um genocídio promissor aonde povos indígenas não irão mais existir. Nunca seremos um só enquanto houver a desigualdade e o pensamento de achar que os nossos direitos são mais urgentes que os do próximo.

Vamos respeitar os povos indígenas eles são tão filhos do Brasil quanto você! 


Hoje o museu me proporcionou mais uma vez a ter contato com povo Mebengôkre- kayapó. Foi uma manhã maravilhosa...

Mékumé (Obrigada, agradecer) ao povo Mebengôkre. 



maravilhosa.  

sábado, 5 de abril de 2014

Rogando por Oyá


"Olha que o céu clareou
Quando o dia raiou
fez o filho pensar
A mãe do tempo mandou
a nova era chegou
agora vamos plantar
Do humaitá ogum bradou
senhor oxossi atinou
iansã vai chegar

O ogã já firmou
atabaque afinou
agora vamos cantar"

Mãe e filha, 
filha e mãe
Dois corpos em um;
Mãe é filha
E a filha acaba sendo mãe
A inconsciência  se tornando consciente
Nesse mundo louco mãe, eu te saúdo e digo
Eparrê Oyá, Eparrê Iansã 
Proteja esse ser 
Proteja a mim
Minha mãe...


quarta-feira, 19 de março de 2014

Direito ao grito

"Porque há direito ao grito
Então eu grito
Grito puro e sem pedir esmolas..."

(Clarice Lispector)

Sem mais...
Sempre mórbida
Serei sempre
Em relação ao amor.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Perigo...

Cuidado Homem
Eu sou um perigo
talvez o teu pior inimigo
Ou quem sabe o teu melhor amigo

Muito prazer,
Eu sou Anita
Mas também me chamo Conhita
Aquela que te enfeitiça
Que te instiga
Que te seduz

Não vacila homem
Pois, sou um enigma a decifrar
Um mistério a revelar
Um veneno a se provar
Um sexo para se viciar

Não brinque homem
Que o amanhã está por vim
E tudo pode mudar
E nada é constante

Eu sou toda paixão
E sou movida a desejo e tesão
Venha homem,
Não se sinta retraído
pode provar do doce veneno de um escorpião
Mas, cuidado!
Com perigo de uma paixão




quarta-feira, 5 de março de 2014

Querer...


Que se procriem em mim as pombo giras

Que nasçam e que morram para tornar viver meus

desejos trancados... 

Pois que a noite senhora da lascívia traz com ela a

saudade de teu corpo de teu cheiro, de tua boca úmida

ávida de beijos... 

Tua língua inquieta perpassa meu íntimo 

Devora minha carne, devassa minha alma 

Desliza teus dedos por minha pele 

Marca em versos nossa historia 

Meu corpo é tua tabua, 


Meu sangue tua tinta

Minha vontade tua escrava 

Teu prazer meu querer...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Mirrons...




De Elisa Lucinda
O poema do semelhante 



O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
É mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.

Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança...

domingo, 19 de janeiro de 2014

Êxtase...


Corpos entrelaçados
Calor e mais calor
Suspiros e gemidos
Delírios...
Adrenalina debaixo dos lençóis
E segue a poesia em forma de rap...
Erotismo, paixão, sexo, tesão!

"Teu calor no meu corpo, teu rosto no meu
Suspirando entre as noites e acordar com um beijo seu
Meu nego vem cuida de mim
Meu nego vem, vem cuida de mim"






sábado, 18 de janeiro de 2014

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu... 


(Cecília Meireles)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Desencontros

"Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis"


(Chico Buarque)

A vida nos traça caminhos estranhos, caminhos sem volta, caminhos sem fim, o futuro é tão incerto, tão louco que é chega ser inconstante. Tudo passa, hoje posso dizer isso, mas como o futuro é incerto, não posso dar certeza. O mundo dar voltas, a vida é mutação, nada é constante, as coisas mudam. Entretanto o que não muda é a forma de como somos, quem entende de arquétipo de orixás sabe que eu tô falando. 

Sou filha de Iansã com Ogum dois orixás guerreiros e de sangue quente. Iansã é a tempestade, o vento, o fogo, Ogum é metal, ferro, floresta e estrada, forças da natureza. Os dois entraram na minha vida com um propósito fazer eu conhecer eu mesmo, o meu eu mais profundo, o eu desconhecido. E de fato fizeram e fazem transformações na minha vida. Entretanto sei que Iansã é ciumenta e encrenqueira, também sei que Ogum adora uma briga, mas também sei que Iansã é determinada e sempre consegue o que quer, independente só o obedece a si mesmo. Ogum é aventura, perseverante e sempre vai atrás e luta pelos seu propósito. Dois orixás no qual eu herdei características fortes até no meu jeito físico. Amo meus orixás, sei que sou feita de erros, mas não justifico meu erro falando que eu ajo assim por ser de Iansã ou Ogum, eu respeito demais os dois para tentar justificar minhas faltas em cima das características deles. Também tenho Oxum, meu equilíbrio, super vaidosa, chorona e protetora, também herdei suas características, amo crianças assim como ela, mãe dos recém nascidos. Entretanto não justifico a minha fragilidade por eu ter-lá como uma das minhas cabeças, eu a respeito.

Tudo poderia ser diferente, mas não foi , desencontros às vezes fazem bem pra alma, a gente renasce!