sábado, 24 de maio de 2014

Do Desejo (Hilda Hilst)


Hector Pineda




       
  Quem és? Perguntei ao desejo.   
 Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.  

I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo.
E que descanso me dás
Depois das lidas.
Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
 Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.  

II
Ver-te. Tocar-te.
Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos.
Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te. Cordura.  Crueldade.

III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.  

IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo.
E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo.
Por que não posso Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?  

V
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes que viajas,
e um sol de gelo petrifica-me a cara e desobriga-me de fidelidade e de conjura.
O desejo Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê?
Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.    

VI
Aquele Outro não via minha muita amplidão.
Nada LHE bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)
Ah, porque me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma Fome irada e obsessiva?  

VII
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
Há o caminhar um descaminho, um arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pó dos impossíveis
Se só me quero viva nas tuas veias?  

VIII
Se te ausentas há paredes em mim.
Friez de ruas duras
E um desvanecimento trêmulo de avencas.
Então me amas? te pões a perguntar.
E eu repito que há paredes, friez
Há ,olimentos, e nem por isso há chama.
DESEJO é um Todo lustroso de carícias
Uma boca sem forma, em Caracol de Fogo.
DESEJO é uma palavra com a vivez do sangue
E outra com a ferocidade de Um só Amante.
DESEJO é Outro. Voragem que me habita.  

IX
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele Outro.
E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.  

X
Pulsas como se fossem de carne as borboletas.
E o que vem a ser isso? perguntas.
Digo que assim há de começar o meu poema.
Então te queixas que nunca estou contigo
Que de improviso lanço versos ao ar
Ou falo de pinheiros escoceses, aqueles Que apetecia a Talleyrand cuidar.
Ou ainda quando grito ou desfaleço
Advinhas sorrisos, códigos, conluios
Dizes que os devo ter nos meus avessos.

Pois pode ser. Para pensar o Outro, eu deliro ou versejo.
Pensá-LO é gozo. Então não sabes? INCORPÓREO É O DESEJO.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Declaração de amor...

Declaração para minha mãe,

É Oyá que brilha no meu caminho, 
Veste fogo, puro fogo
É Oyá a tempestade que gira em mim
É vento, filha do vento
É de Oyá, minha fúria, meu arquétipo, meu tudo... ´
É de Oyá meu amor doentio e ciumento
Mas, também é de Oyá minha garra e determinação, e mais, minha LIBERDADE também é dela, livre como ela...
Oyá ergue a sua saia e pisa no fogo ao lado de Xangô
É vulcão...
Seja Oyà Petu, Oyá dos raios, Oyà Onira, Oyà Bagan,
Oyá Senó ou Sinsirá, Oyà Topè , Oyà Ijibé ou Ijibí
Oyà Kará, Oyà Leié, Oyà Biniká, Oyá Olokere Olokuerê
Seja Oyás de culto Igbalé:
Oyà Egunita, Oyà Funan-Igabalé,
Oyà Padá
Oyá Tanan ou Furé
Seja qual for é larva, é guerra, combustão
É a minha Oyá que ilumina meu céu
Meu amor mais intenso
Eparrê minha mãe

Meu amor mais verdadeiro...

domingo, 4 de maio de 2014

Se deja LLevar...

Que pudores posso eu ter
se o teu toque me desmontava.
Esse toque que era visceral, 
imoral, e imperfeito.
Mas que percorria o meu corpo suado
e te transformava nas sendas
do meu pecado
Que pudores posso ter
se a tua boca insana
me estremecia naquela cama
fazendo o inimaginável no meu ser...
ah se desejas, 
Venha e devore o meu ser
Orgasmos que me fazem perde os sentidos
Promíscua, Sexo, Insanidade
Se desejas, 
Deixe-se levar mais uma vez...

ao som...


"Y si el destino no me deja
Descansar
Por no conocerme
Me confunde esta mente que suelen dañar
Me pierde el sexo turbulento
Me pierde el son del son
Son de cuando llegas
Son de cuando voy
Son de tu cadencia
Son de como soy"




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mon chéri, Venez sur...

Venha, 
Sussurre 
Diga 
Me ame...

Venha,
Experimente 
Se lambuze
Me tome... 

Venha, 
Faça-me
Inconsequente 
Puta
Insana
Anjo... 

Venha,
Orienta-me
Traduza-me
Ensina-me
Enlouqueça-me...

Desejos insanos
Venha, 
Meu corpo
No teu corpo
Teu sexo
Meu sexo
Nosso sexo... 
Volúpia 

Mon chéri
Venez sur,
Change-moi 
enfreindre 
rupture
lois 
Abuser de moi...

Venha, 
é sina
é fogo,
é Oyá
é Conchita
é gira...
é vento
é vida...
é morte

Abuse
A lascívia dona da noite
Impera e brilha
Venha, 
Embole-se 
Nos jogos de pernas
Quadris
Tapas 
Beijos e línguas
Penetração

Venha, 
e sinta
é vulcão
paixão
erupção
amor 
Tesão
Luxúria 
Gozo
Sensação... 





(Anita)