terça-feira, 14 de junho de 2011

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade


sábado, 11 de junho de 2011

Arraial do Pavulagem.





Arraial do Pavulagem, grupo musical de Belém do Pará. Tem este nome derivado de arraial (local onde se realizam os festejos, nas festividades dos santos) e de pavulagem, neologismo originário de pavão, que significa o formoso, bonito, e pomposo e que na linguagem popular tem o significado de "o que gosta de aparecer", ou o fanfarrão.
No começo, uma brincadeira na Praça da República reunia os mais variados artistas.
O que deveria ser apenas uma brincadeira acabara virando uma grande roda de cantoria.
Cantadores e compositores, entre outros, tinham uma ideia, a de formar plateia e assim criar um espaço para divulgarem seus trabalhos. A princípio, o boi era chamado “Pavulagem do Teu Coração”, somente a partir de 1987, passou a ser chamado de "Arraial do Pavulagem". A mudança se deu pelo fato de se ter uma visão mais ampla do contexto cultural podendo, assim trazer um universo de elementos populares para o Arraial e não se limitar somente à cultura do boi-bumbá, após 17 anos de vivência o grupo musical resolve fortalecer as ações públicas criando para isso o Instituto Arraial do Pavulagem em 2003.

Arrastão do Pavulagem (Arrastão do boi azul)

No segundo domingo de Junho sai um barco da Praça Princesa Isabel, no bairro do Condor (Belém), transportando o Boi Pavulagem e convidados (Boi Malhadinho e Boi Orube) juntamente com o mastro de São João rumo à escadinha do cais na Praça Pedro Teixeira, seguindo até a Praça da República onde o mastro é fincando, permanecendo lá até o final da quadra junina, onde acontece a derrubada do mesmo.
O carimbó, o siriá e as toadas de boi deram o tom ao arrastão do mês, realizado pelo Arraial do Pavulagem, na Praça da República, para resgatar a essência da cultura paraense e festejar a quadra junina. Hoje essa grande festa da tradição popular chega a reunir em um único domingo mais de quinze mil pessoas, entre participantes e brincantes, que aderem ao cortejo, que tomou conta da Avenida Presidente Vargas desde a escadinha da Estação das Docas. A grande apoteose do arrastão aconteceu com a cerimônia dos mastros de São João e show da banda Arraial do Pavulagem, em um palco na praça.
Santos da época, cavalinhos e os tradicionais “cabeções”, além de adereços relativos à festa junina e às bandeiras fazem parte dos grupos do arrastão, valorizando os ritmos da terra e a cultura amazônica.


Simbora, Pavulagem Vaqueirooo !

:)




terça-feira, 7 de junho de 2011

Lindo Céu...


Por sobre as nuvens
Existe um lindo céu
Maravilhoso céu
Morada dos anjos

Por sobre as nuvens
Existe um trono
Cujo o rei
Está assentado
A direita de Deus

Céu , lindo céu
E o lugar
Aonde quero viver
Pra sempre

Céu, lindo céu
E o lugar
que meu Deus preparou
Pra mim

Céu, lindo céu
Onde com os anjos
eu cantarei
Adorando o senhor



Querida Alana,
Tenho certeza que Deus está lhe preparando um lindo lugar para que você possa descansar e viver em PAZ!
Grande Guerreira, exemplo para muitos!
Luto.

domingo, 5 de junho de 2011

Dar-se Enfim.

O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio-pleno que e estava encarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: Ah, abrir as mãos e o coração, e não estou perdendo nada! E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!

Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser. Mas vem uma segurança estranha: sempre ter-se-á o que gastar.

Não ter pois avareza com esse vazio-pleno: gastá-lo.

Clarice Lispector

O Quereres



 Uma linda música de Caetano Veloso.
Camille M.

Ela canta, pobre ceifeira.



Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,


Ondulada como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.


Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida
E canta como se tivesse
Mais razões para cantar que a vida.


Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente está pensando.
Derrama no meu coração 
Atua incerta voz ondeando!


Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó Canção! A ciência


Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passa!




(Fernando Pessoa em;
Mensagens)


Camille M.