segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Magistri apresenta : Boca do Inferno...Ilustre Gregório !

Gregório de Matos Guerra é umas das figuras mais importantes que já existiu neste país e de longe o mais importante escritor do barroco brasileiro. Nascido em Salvador teve educação religiosa jesuíta, filho de família abastada, foi para Portugal onde estudou direito. Foi poeta popular e irreverente que possuía comportamentos indecorosos, que agredia a “moral” da sociedade em sua época. Apelidado de boca do inferno, por causa de sua ousadia em falar e criticar a igreja católica, a política e a sociedade, muitas vezes ofendendo os seus conterrâneos. Gregório chegou a ser preso e exilado, devido os seus desagrados ao governo, na época. A sua obra poética é bem ampla e diversificada, de inspiração variada. Podemos observar o poema a baixo, os descaminhos do Brasil Colonial. A forma sarcástica que Gregório expõe à sociedade da Bahia nos tempos primitivos da acumulação do capital na colônia lusitana.


Que falta nessa cidade? Verdade
Que mais por sua desonra? Honra
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha
O Demo a viver se exponha
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
                                                 (Gregório de Matos, “Epílogo”).


Salvador faltava verdade, honra, vergonha; sobrava negocio, ambição, usura, era o tempo de acumulação de capital na colônia. Esses anos de mercantilismo tropical encontrariam em Gregório de Matos, o seu poeta cronista, ele nos descreve, com uma rara ironia as contradições do antigo regime. Nada fugia ao senso critico do escritor, todos da sociedade eram zombados pelo ilustre poeta baiano. Leiamos o poema abaixo:

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a maquina mercante
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Desde em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz brichotes

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanhecerás tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

O “triste estado” denunciado por Gregório é o papel que coube à Bahia na antiga ordem colonial: fornecer matéria-prima de ótima qualidade em troca de meras especiarias sem muito valor. O eu-lirico a olhar à Bahia fica desolado ao se dar conta das transformações sofridas por ele e, principalmente pelo Estado. Sua Terra era prospera no passado, mas agora está empobrecida pelas maquinas mercantes que cruzou a barra do porto; e ele próprio também foi ludibriador pela acúmen de tanto negocio e tanto negociante como é ponderado na segunda estrofe.

Gregório e ilustre com suas crônicas e criticas. É de fato um cômico sarcástico retratando a sociedade baiana sem pudores e com muita ousadia.  

Beijos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário