sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma pequena análise da Linguística Poética de Romam Jakobson.


Roman Jakobson nasceu em Moscou no dia 11 de Outubro de 1896, conviveu com a intelectualidade Russa anterior à revolução. Desde cedo revelou interesse pelos estudos comparativos. Em 1914, Jakobson inscreveu-se no Departamento de Eslavística da Universidade de Moscou onde linguística era disciplina básica. Os estudos de literatura abrangiam não só as manifestações da escrita, mas também a poesia oral e o folclore. Movido pela mesma paixão, tanto para o estudo da poesia oral como para o conhecimento da poesia experimental da nova geração da poesia simbolista, Jakobson amadureceu a ideia dos estudos interdisciplinares entre linguística e poética. Os sons da língua eram um enigma a ser decifrado. É no caminho aberto pelos artistas de vanguarda que Jakobson começa a formar suas ideias teóricas.

Deste modo, Jakobson defendia a tese de que não há razão de dividir a literatura da linguística, pelo fato de que a semiótica em geral abrangem todas as teorias dos signos. Ou seja, se a literatura consisti de uma criação da arte verbal, entendemos então que a poética não está ligada totalmente as analises literárias, e sim segundo o linguístico “Em uma relação de palavra e o mundo, pois, à arte verbal, consiste em todas as espécies do discurso” (JAKOBSON, 1960a, P.119).

Entendemos a literatura como uma criação da arte verbal, Jakobson condenava estudos que se ocupava com questões sociológicas, psicológicas, filosóficas e biográficas, ou seja, questões que expressam apenas os acontecimentos da vida. Deste modo, o linguístico não via a literatura como se fosse algo apenas para demostrar emoções, sentimentos, ou algo especialmente escrito, ao contrario; ele mostra que a linguagem verbal vai muito além de questões emocionais, pois ela abrange relações que ele chamou de “differentia specifica” que é a relação de som e sentindo. De fato, Jakobson mostra que a conduta verbal tem uma finalidade, mas os objetivos variam e a conformidade dos meios utilizados com efeitos visados é um problema que preocupa permanentemente os investigadores das diversas espécies da comunicação verbal.   

Para Jakobson a linguagem deve ser estudada em toda variedade de suas funções. Mas, antes de discutir a função poética, deve definir as outras funções postuladas por Jakobson. Deste modo, o  linguístico teve uma grande influência do semiólogo Charles Sanders Pierce que defende a ideia de que “não é a presença ou ausência absolutas de similitude ou de contiguidade entre o significante e o significado [...] que constituem o fundamento da divisão do conjunto de signos em ícones, índices e símbolos, mas somente a predominância de um desses fatores sobre os outros” (ibidem, p. 104). Ou seja, tanto para Pierce quanto para Jakobson as funções da linguagem não existem de forma pura; elas se mesclam o tempo todo. Embora elas conviverem juntas e obtendo combinações, sempre haverá uma função predominante. Ou seja, “a diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções”. (JAKOBSON, 1960a, p.123).

A linguagem sempre varia de acordo com a situação, assumindo funções que levam em consideração o que se quer transmitir e que efeitos se espera obter como se transmite. As funções de linguagem se organizam através de um emissor que envia a mensagem a um receptor, usando códigos que corre pelo meio de um canal. Jakobson mostra que cada função de linguagem tem um remetente ou emissor que envia uma mensagem ao destinatário. A mensagem referir-se a um contexto para ser recebida pelo receptor. Este deve, também, conhecer (nem que seja algo sucinto), o código usado para cifrar a mensagem, que precisa ainda “andar” para um canal físico, estabelecendo uma conexão entre o remetente e o receptor. Para assim, permanecer uma comunicação.

Jakobson propõem seis funções diferentes da linguagem.

Referencial: Seu objetivo é traduzir a realidade ao receptor, informando de uma forma mais clara e objetiva, sem manifestar opiniões explícitas ao receptor. Tendo como marca a predominância da terceira pessoa do discurso, ou seja, a pessoa de que se fala, o ele.

Emotiva: Como o nome mesmo já diz, é expressar emoções, sentimentos, estados de espíritos, visando uma expressão direta de quem fala em relação aquilo que está se falando. O autor mostra que o estrato puramente emotivo da linguagem é apresentado pelas interjeições, dando assim uma diferencia da função referencial tanto pela configuração sonora e tanto pela configuração da escrita. Segundo Jakobson “a função emotiva, evidenciada pelas interjeições, colore, em certa medida, todas as nossas manifestações verbais, ao nível fônico, gramatical e lexical.” (JAKOBSON, 1960a, p.124).  Ela está centrada na primeira pessoa do discurso, ou seja, ao próprio emissor.


Poética: A poética dar ênfase à elaboração da mensagem. O emissor constrói seu texto de maneira especial, realizando um trabalho de seleção e combinação de palavras, de ideias e imagens, de sons e ritmos. Romam Jakobson defende a tese de que a especificidade linguística da poesia reside na relação de semelhança entre o som e o sentido; isso mostra que o Iconismo ¹ predomina. O teórico russo redefiniu a função poética como aquela em que a mensagem se dirige à própria mensagem (id.,ibidem, 127). Entendemos que na linguagem poética, o iconismo entre o significado e o significante é patente e obrigatória.

A função poética não é a única que predomina na arte verbal. Entretanto é a função dominante com enfatiza Jakobson. A função poética reduz o significado da mensagem, pois segundo o autor a reiteração regular é a unidade equivalente. Explicando esse fenômeno, Jakobson mostra que esse efeito ocorre porque, em sua concepção, a construção da mensagem poética é regida por processos de “equivalência”, ou seja, por relações de semelhança, ou que faz com que repita uma estrutura semelhante do som, da sintaxe, da morfologia e entre outros.  Jakobson mostra que em um soneto está construído de forma, pois, sua primeira e sua ultima parte apresentam praticamente a mesma estrutura gramatical, tanto em termos sintáticos, morfológicos, fonológicos e semânticos. Por isso as repetições de sons ao invés de diminuir, aumentam o significado da mensagem poética. Na poesia, cada repetição, mantem-se uma unidade intrínseca, porém, na medida em que essa unidade é colocada em um novo contexto, a mesma estrutura adquire outros significados, dependentes da nova situação. Este é o motivo, pelo qual a função poética não é a única que predomina.

Deste modo, o autor mostra que a poesia épica está centrada na terceira pessoa, pondo em destaque a função referencial; a lírica esta voltada para a primeira pessoa dando uma característica vinculada à função emotiva; a poesia da segunda pessoa esta entrelaçada a função conotativa, que pode ser uma súplica ou exortativa, dependendo de a primeira pessoa estar subordinada à segunda ou está à primeira.

Jakobson soube mostra que a literatura e a linguística fazem parte de um mesmo conjunto de signos, e não tem razão de dividi-la, a relação de palavra e mundo não diz respeito apenas à arte verbal, mas todas as espécies do discurso. A linguística explora todos os problemas possíveis de relação entre o discurso e o “universo do discurso”. Esta separação segundo o linguístico, se baseia numa interpretação um tanto errônea, do contraste entre a estrutura da poesia e outros tipos de estrutura verbal.
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Iconismo ¹:  Na linguagem poética sempre haverá relação analógica entre a estrutura material da linguagem e o sentindo.




Referencias:
Jakobson, Roman, In : Linguística e Poética, Nova York, 1970,p.118-133


Fonte: http://www.pucsp.br/pos/cos/cultura/biojakob.htm

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