quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Autopsicografia


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve.
Na dor lida sentem bem.
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Esse camboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa.

4 comentários:

  1. Que perfeição de palavras!
    Não restam dúvidas do potencial abstracionismo de Pessoa. Nestes versos, psicografia que, naturalmente entenderíamos pela capacidade atribuída aos médiuns em escrever mensagens ditadas por espíritos, possui outro sentido, que vai além disso: a poesia é muito mais do que o próprio poeta pode entender, não à toa, ele escreve muito mais do que ele sente, no momento em que é posta como a psicografia feita à si próprio, ele chega à esta conclusão.
    Isso é forte! Gostei mesmo. Alto nível de sublimação.

    Bem selecionada, Camille. Parabéns.
    Beijos.

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  2. Vale dizer, a poesia vai muito além do que se imagina, para nós leitores habituais, e também, para os próprios poetas. Isso ocorre devido aos vários caminhos de entendimento que ela nos disponibiliza, o que nos leva à conclusão de que a poesia se caracteriza por uma interpretação notavelmente multifacetária.

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  3. Muito Obrigada, pelas tuas lindas palavras.
    De fato Fernando Pessoa é deslumbrante em seus poemas. Com ele o sentimento da poesia transcende tudo o que há de mais belo e sublime nesse mundo.

    Um forte abraço poético

    Camille Miranda.

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  4. Poesia é vida ! Vale a pena senti-lá !

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